Pesquisa divulgada no último dia 24 de julho, referente ao mês de junho, pela Confederação Nacional da Indústria-CNI, realizada em parceria com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção-CBIC, mostrou que, apesar da pandemia, a confiança de empresários do setor de construção civil melhorou em relação aos próximos seis meses. A pesquisa foi feita com quase 500 empresários e empresas de pequeno, médio e grande porte do setor em todo o Brasil.
Por que o setor da construção civil é tão importante? Porque é um dos maiores empregadores do país. É um dos primeiros a reagir em um processo de retomada econômica.
A pesquisa aponta que o setor da construção civil está vendo uma recuperação nos próximos meses. A demanda ainda está muito baixa, mas está havendo uma retomada de atividades, refletindo, inclusive, numa retomada nos níveis de emprego no setor.
A pesquisa mostrou que houve uma grande queda nos níveis de atividade nos últimos meses. Mas o ponto positivo é que a recuperação apontada no mês de junho foi mais positiva do que se esperava, apesar de ainda estamos próximos aos níveis alcançados na crise histórica do setor, registrada nos anos de 2015/2016.
Quando falamos de confiança, também é algo positivo. A pesquisa mostra que a intenção de investimentos aumentou, comparativamente à queda registrada nos meses de março e abril de 2020. Com a perspectiva de novos investimentos e contratações, a confiança aumenta. E o mercado vive de expectativas. É um bom sinal, apesar do momento econômico difícil que o Brasil enfrenta.
Em entrevista para a jornalista Mônica Waldvogel, o economista Jose Roberto Mendonça de Barros apontou a volta do consumo-formiga de cimento. Teria havido um aumento de consumo de cimento vindo dos beneficiários dos recursos recebidos pelo auxílio emergencial. Esses consumidores pegaram o recurso para reformarem suas casas, construírem mais um cômodo.
O auxílio emergencial representa cerca de R$ 50 bilhões de reais injetados na economia mensalmente. O desafio é verificar a continuidade desse movimento, dado que o auxílio emergencial terminará em agosto. Outro ponto é a classe média começar a se voltar para o mercado imobiliário para comprar imóveis melhores. O home office veio para ficar e muitas famílias estão atentas a isso.
Ainda há, claro, incertezas na economia. Talvez ela não tenha folego para permitir uma retomada continuada. A pandemia é uma questão de saúde pública, e o relaxamento nas medidas restritivas pode nos levar a um cenário semelhante ao visto nos Estados Unidos, onde o fim do isolamento está sendo acompanhado pela aceleração de novos casos da COVID. Podemos começar a retomar certo otimismo, mas sem perdermos o bom senso, porque o quadro de recuperação econômica ainda é muito frágil.
O setor de construção civil tem que ter a capacidade de ler corretamente para onde a tecnologia e os modelos de negócios estão caminhando.
A queda na atividade econômica da construção civil nos últimos anos deixou danos que não serão recuperados apenas com a retomada da atividade econômica. O setor precisa se modernizar, rever seus processos, seus métodos construtivos, incorporar novas tecnologias, adotar novas metodologias de trabalho. Internet das Coisas, Realidade aumentada, realidade expandida, analytics, construções modulares terão que fazer parte do dia a dia das empresas do setor, independentemente do seu porte ou segmento que atua. E a questão que fica não é se, mas quando irão incorporar essas inovações, sob o risco de comprometerem a própria perpetuidade dos negócios.
Uirá Falseti
Mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP
Sócio da Upsoul Consultoria