Estamos começando a ouvir, com uma frequência cada vez maior, a expressão “Indústria 4.0”.
Mas, o que, afinal, significa essa expressão?
A expressão refere-se a uma combinação de várias tecnologias digitais, que chegaram a um grau de maturidade técnica e que passaram a atuar de forma sinérgica, e que estão reinventando o setor da manufatura como o conhecemos hoje. Essa combinação tem um fator-chave: elas possuem a capacidade de integrar o mundo físico e o mundo virtual, muitas vezes em tempo real. Você pode simular todo um produto, uma construção ou mesmo uma nova planta totalmente digitalizada. Pode-se fazer a gestão desses mesmos itens on line, em tempo real, com ações preditivas que diminuam o impacto de defeitos ou mesmo acidentes. E tudo isso com rentabilidade crescente para o negócio.
Itens como Inteligência Artificial, realidade aumentada e expandida, Internet das Coisas, Data analytics, cloud computing, manufatura aditiva (impressão 3D e 4D), todas acessíveis e operacionais até mesmo a partir de smartphones e tablets, garantindo uma portabilidade única.
Essas tecnologias estão integrando cadeias produtivas em todo o mundo, viabilizando e potencializando o conceito de economia globalizada.
Poderíamos afirmar que, sem o amadurecimento a Industria 4.0, a globalização não estaria alcançando o nível de refinamento atual. E isto é somente o começo.
Mas e o setor da Construção Civil?
O segmento de Construção Civil demora, por uma série de fatores de ordem técnica e culturais, em adotar novas tecnologias que sejam verdadeiramente disruptivas, que impactem o modelo de negócio e incremente a produtividade, oferecendo maior rentabilidade do negócio.
Na busca por tecnologias para o setor, busco estar presente em algumas das maiores feiras do setor no mundo. Na World of Concrete, em Las Vegas, na Bauma, em Munique e, recentemente, na Construtech, realizada em São Francisco, na Califórnia, tive contato com novas tecnologias e novos modelos de negócio – incluindo startups – que me permitem afirmar: já estão ocorrendo profundas mudanças no segmento da construção civil.
Embora muitas delas ainda não tenham alcançado uma maturidade comercial que permita sua ampla disseminação na cadeia produtiva, essas mudanças vieram para ficar. E a expressão-chave é digitalização da manufatura.
Internet das Coisas, Inteligência Artificial, disseminação de sensores, data analytics, estão tornando as máquinas mais inteligentes e autônomas, assumindo operações repetitivas que representam risco para os trabalhadores.
A chave é a digitalização. Cada vez mais projetos de construção estão incorporando sistemas de sensores digitais, máquinas inteligentes, dispositivos móveis, drones e novos aplicativos de software, integrados a uma plataforma central de Building Information Modeling – BIM.
Técnicos e especialistas do setor consultados por mim nessas feiras estimam que a adoção, por toda a cadeia produtiva da construção civil, dessas tecnologias, representa uma perspectiva de redução significativa nos custos do ciclo de vida de um projeto, com menores prazos de entrega, menores índices de sinistralidade, menor retrabalho, melhoria significativa na qualidade do produto final e menores custos.
Via de regra, o setor da construção civil é lento na adoção de tecnologias disruptivas. Os motivos são vários – desde fatores culturais até a defasagem tecnológica e restrição de crédito em muitas empresas do setor.
Muitas empresas que buscam adotar novas tecnologias enfrentam o que poderíamos chamar de desalinhamento com os demais membros da cadeia construtiva da construção civil. Mesmo empresas líderes em seus segmentos de atuação enfrentam dificuldades em influenciar as empresas que estão em sua zona de influência. Dificuldades maiores que empresas do setor automotivo, por exemplo, cujo setor é bem mais atualizado em termos tecnológicos.
Entretanto, a percepção do setor sobre os benefícios oferecidos, aliados à melhoria do ambiente econômico brasileiro, estão ajudando na superação dessas barreiras. Poderemos ter, em breve, um aumento de produtividade no setor, com um efeito multiplicador junto aos fornecedores, ao setor de infraestrutura, e mesmo junto ao governo – o grande cliente no setor de construção civil no Brasil – que poderá contar com obras de melhor qualidade, entregues no prazo e a custos menores.
A questão que fica: como estará a competitividade da sua empresa nos próximos anos caso ela não adote essas tecnologias? Como será a continuidade do seu negócio, caso seus concorrentes resolvam adotar essas novas tecnologias? Haverá tempo para a recuperação ou o gap será grande demais e não poderá mais ser recuperado?
Uirá Falseti
Mestre em engenharia pela Escola Politécnica da USP
Diretor da Upsoul Consultoria